História da Arte: Egito

27/12/2015

Podemos dizer, em poucas palavras, que a pré-história é a fase em que o homem aprendeu a sobreviver com as hostilidades da natureza, até que a chegada da Revolução Neolítica o colocou em posição de contornar as adversidades e fixar-se ao solo. Devido a esse fato, a população local cresceu mais do que as plantações de alimentos puderam acompanhar gerando, assim, guerras tribais com o objetivo de reduzir os habitantes. Como consequência, houve a formação de coletividades maiores e disciplinadas, capazes de grandes feitos, como por exemplo a construção de muralhas.

A partir de agora, o homem tinha como desafio o enfrentamento de seus semelhantes, que representavam um perigo muito maior do que haviam enfrentado na natureza. Nesse contexto, surge nos Vales do Nilo, do Tigre e do Eufrates uma sociedade mais eficiente, disciplinada e complexa. Essa civilização que aparenta ter nascido do nada e mais tarde retorna ao nada, é um exemplo de magnitude. Seus ideais artísticos e crenças se formaram no início e foram mantidos durante todo o período, sofrendo apenas pequenas variações. Isso, somado ao fato da história Egípcia ser dividida em dinastias, nos dá uma sensação de continuidade.

A arte egípcia é religiosa e funerária. Um exemplo disto são as famosas pirâmides, que não tinham outra função se não ajudar o faraó, soberano absoluto considerado um Deus vivo, em sua ascensão espiritual, uma vez que apontam para o céu, e preservar o seu corpo sagrado da decomposição, pois só assim sua alma poderia continuar vivendo no além. Vale lembrar que para os egípcios não havia distinção entre a vida e a morte, sendo esta última uma sobrevivência feliz. O Ka, ou em outras palavras, o espírito, continuaria a deleitar-se com os mesmos prazeres de vivo e por isso era necessário preparar o túmulo como uma repetição do cotidiano.


Pirâmides de Gizé: Quéops, Quéfren e Miquerinos - Egito.


Entrada da Pirâmide de Quéops - Egito.

O corpo embalsamado era colocado no centro da pirâmide, enquanto fórmulas mágicas preenchiam toda a sua volta. Os povos egípcios também acreditavam que precisavam preservar a fiel imagem do rei para que a mágica acontecesse, e por isso os escultores esculpiam a cabeça do faraó em granito imperecível para ser colocada em um lugar secreto em sua tumba. Essa crença levou os escultores egípcios a serem conhecidos como “aquele que mantém vivo”. As pirâmides, ao contrário dos que muitos pensam, não são construções isoladas no deserto. São, na verdade, vastas necrópoles onde corriam celebrações religiosas. Quando as tradições deixaram de ser apenas privilégio dos reis e passaram a abranger a nobreza, foram construídos vários túmulos particulares menores alinhados ao túmulo do rei que receberam o nome de mastaba.

Os sacerdotes eram eruditos responsáveis pelos dogmas difundidos para a população. Tinham conhecimento do movimento do céu, da geometria e triangulação e sobre a ciência, até então tida como algo secreto. Naturalista e politeísta desde sua origem, os sacerdotes eram responsáveis por instruir os artistas na construção de imagens sagradas. O artista egípcio era apenas um operário ingênuo, não um iniciado em ciências místicas, e seu papel era preservar tudo o mais claro possível como podemos observar nos relevos e pinturas. O importante não era a beleza e sim manter inteiro aquilo que estava sendo representado. Por isso, na representação do corpo humano, temos a cabeça vista de perfil, os olhos e o tronco de frente, enquanto que os membros são retratados de lado. Não é que os egípcios acreditavam que o homem tinha essa aparência, era apenas uma convenção para incluir tudo o que se considerava importante na figura humana. Talvez seja devido a finalidade mágica da arte, pois como um homem “cortado” receberia oferendas?


Pintura encontrada no interior da tumba de Tutankhamon.

As leis a serem seguidas pelos artistas eram muito rigorosas, uma vez que não existia originalidade e todos queriam as representações mais fiéis àquelas admiradas no passado. Depois de aprender todas as seguintes regras, o aprendizado do artista era dado como encerrado:

“As estátuas tinham que ter as mãos sobre o joelho; os homens tinham que ser pintados com a pele mais escura do que as mulheres; a aparência de cada deus egípcios era rigorosamente estabelecida: Horo, o deus-sol, tinha que ser apresentado como um falcão ou com uma cabeça de falcão; Anúbis, o deus da morte, como um chacal ou com uma cabeça de chacal. Todo artista tinha que aprender também a bela arte da escrita. Tinha que recortar na pedra, de um modo claro e preciso, as imagens e símbolos dos hieróglifos”. (GOMBRICH, 1972)

Apenas na décima oitava dinastia a tradição da arte foi rompida. O rei Amenófis IV, que se auto intitulou Akhnaton, devido ao deus Aton, ao qual cultuava e representou em forma de sol, procurou quebrar a rigidez e a imobilidade, substituindo-as por formas flexíveis e antigeométricas. Foi representado em cenas nada tradicionais, como por exemplo passeando pelos jardins, e com todas suas fraquezas humanas. Tutankhamon, seu sucessor, seguiu os traços de sua arte, como no relevo encontrado no encosto de uma cadeira em seu túmulo e intitulado “O Faraó Tutankhamon e sua esposa” que representa uma cena doméstica, onde sua mulher pousa a mão em seus ombros enquanto o Deus Sol, representado pelo globo dourado derrama sua benção sobre ambos. Contudo, essa abertura na arte egípcia não durou muito, e ainda no reinado de Tutankhamon as velhas tradições foram restabelecidas.


O Faraó Tutankhamen e sua esposa Anchesenamon.

Referências:
FAURE, Élie. História da Arte, a arte antiga. 1. ed. Lisboa: Editorial Estúdios Cor, 1951, 183 p.
GOMBRICH, E.H. A História da Arte. 1.ed. Círculo do Livro, 1972, 506 p.
JANSON, H.W. História Geral da Arte, o mundo antigo e a idade média. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 523 p.

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